A fé trocada por curtidas: líderes religiosos se rendem à vaidade digital e esquecem o propósito divino

Foto: Reprodução pública redes sociais

Por Charles Manga

Misturando o Santo com o Profano. Nos últimos tempos, o ambiente religioso tem sido palco de um fenômeno preocupante: pastores, líderes e membros de igrejas que, em vez de colocarem Deus em primeiro lugar, parecem buscar honrarias humanas, fama e reconhecimento nas redes sociais.

O alerta, comum entre fiéis mais tradicionais, ecoa nas palavras do apóstolo Paulo em 2ª Timóteo, capítulo 3, versículos 1 a 5, onde ele descreve os sinais dos “tempos difíceis”:

“Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes aos pais, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus; tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela.” (2 Timóteo 3:1–5)

Essa passagem bíblica tem servido de espelho para a realidade atual. Nas redes sociais, é cada vez mais comum ver líderes religiosos transformados em “influenciadores da fé”, disputando espaço digital por visualizações, curtidas e seguidores — muitas vezes, em detrimento da humildade e da essência do evangelho.

O culto à imagem e o esquecimento do propósito

“Hoje, muitos buscam o púlpito como palco, e não como altar”, afirma o teólogo e pastor Carlos Menezes, em entrevista ao Vereda Cristã Online. Segundo ele, a busca por destaque e status dentro das igrejas reflete uma inversão de valores.

“Quando a vaidade toma o lugar da vocação, o ministério deixa de ser serviço e se torna espetáculo. A Bíblia nos chama para servir, não para aparecer”, resume Menezes.

A crítica ecoa entre fiéis cansados de ver nas redes vídeos, fotos e discursos que mais promovem o ego pessoal do que a mensagem de Cristo. Em grupos de WhatsApp e comunidades religiosas, multiplicam-se os desabafos sobre falsidade, competição e hipocrisia, mesmo entre pessoas que publicamente se tratam como irmãos.

“Triste é ver líderes se abraçando diante das câmeras e se atacando nas sombras”, comenta uma fiel da Primeira Igreja de Vila Velha, que prefere não se identificar. “Parece que o amor esfriou.”

Fama, poder e ganância: as tentações do século XXI

A Bíblia adverte sobre os perigos da busca por reconhecimento terreno. Em Mateus 6:1–4, Jesus ensina:

“Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; doutra sorte, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus.”

Essa passagem reforça que o verdadeiro valor espiritual está na intenção do coração, e não na visibilidade pública. Contudo, a era digital trouxe novas tentações: fama instantânea, monetização de conteúdo religioso, e o risco de confundir popularidade com unção.

A psicóloga cristã Lídia Santos, especialista em comportamento religioso, aponta que a vaidade espiritual é uma das armadilhas mais sutis da modernidade.

“As redes sociais alimentam a comparação. Quando um pastor mede o sucesso do ministério pelo número de seguidores, ele se distancia do chamado de servir e se aproxima do orgulho, que é a raiz de toda queda”, afirma.           

Hipocrisia e falsidade: o amor que se esfria

O comportamento descrito pelo apóstolo Paulo em 2 Timóteo se manifesta hoje em diferentes formas: rivalidade entre igrejas, fofocas de bastidores, e a busca incessante por poder institucional. Nos grupos religiosos e fóruns online, a fraternidade parece muitas vezes substituída pela competição. Abraços públicos e elogios se transformam em críticas e traições quando as câmeras se apagam.

Jesus já havia advertido sobre isso em Mateus 24:12:

“E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos se esfriará.”

O amor cristão que deveria ser base da comunhão acaba sendo trocado pela vaidade e pelo desejo de destaque.

Para onde estamos indo?

A pergunta que paira é: onde esses homens e mulheres querem chegar?
A Bíblia é clara: “Pois, que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Mateus 16:26).
A sede por poder e a busca por fama religiosa podem até render aplausos e curtidas momentâneas, mas, espiritualmente, são caminhos vazios.

“Deus não divide Sua glória com ninguém. Quando alguém quer aparecer mais do que Ele, o fim é sempre queda e vergonha”, conclui o pastor Menezes.

Reflexão final

O cristão verdadeiro é chamado a ser luz, não celebridade; a servir, não ser servido.
O desafio da igreja moderna é resistir à tentação da autopromoção e recolocar Deus no centro, lembrando que a glória pertence somente a Ele.
Como ensina Provérbios 16:18:

“A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda.”