Militância desastrada é dinamite no colo: Pazolini e Cris se calaram — e seus defensores falaram demais

Redação

Há um tipo de militância que, na ânsia de proteger, acaba por sabotar. É o que estamos vendo nos bastidores — e agora, nas redes sociais — com o caso envolvendo o prefeito de Vitória (ES), Lorenzo Pazolini (Republicanos), e sua vice, Cris Samorini (PP). Um vídeo que circula desde o início da semana mostra os dois em clima de intimidade, durante um show no Piauí, após uma agenda oficial de Pazolini no Maranhão.

De início, recusei tratar do tema no Opinião ES. Fui um dos primeiros a receber o vídeo — antes mesmo de Léo Dias, que mais tarde projetou o caso em escala nacional. Mas tenho uma regra editorial inegociável: não exploro vida pessoal, nem famílias de figuras públicas, salvo quando o privado ultrapassa o muro da privacidade e invade o espaço político. E é justamente isso que começou a acontecer.

Não cabe aqui julgar se houve ou não um envolvimento amoroso. Não sou inquisidor da moral alheia. O que exige uma resposta — firme, serena e justa — é o comportamento de um pequeno grupo que tenta salvar a imagem do prefeito com base no pior dos recursos: a mentira.

A mentira pode até maquiar, por um tempo, os traços de uma verdade incômoda — mas nenhuma máscara resiste ao peso dos dias. Cedo ou tarde, a face real sempre aparece.

A estratégia foi rasteira: começaram dizendo que o vídeo era falso. Até compreendo aqueles que, em boa fé, reagiram assim por não acreditarem que aquilo pudesse ser real — há pessoas que preferem negar o óbvio por afeto ou incredulidade. Mas também há os maliciosos, que enxergaram no episódio uma oportunidade para espalhar veneno e manipular a narrativa. Alguns, inclusive, chegaram ao absurdo de afirmar que se tratava de um deepfake — uma tecnologia sofisticada usada para simular rostos e vozes.

E é aqui que começa a indignação. Não por defender A ou B, mas por respeito ao senso de justiça e à integridade dos fatos.
Como jornalista, como conservador e como cidadão que leva a sério a honestidade intelectual, me incomoda profundamente ver amigos da direita replicando as mesmas práticas desonestas que tanto criticamos na extrema-esquerda. Mentir para proteger um político não é apenas desonesto — é corrosivo. Desfigura princípios, enfraquece lideranças e afronta a inteligência do povo.

Ser conservador não é gritar palavras de ordem nas redes sociais ou fazer arroubos moralistas em frente a uma câmera. Ser conservador é viver com coerência. É ter caráter, postura e respeito aos limites da verdade — mesmo quando a verdade é desconfortável.

Como dizia Chesterton, “a moral é a mais corajosa das atitudes”.
O vídeo é real. Nenhum dos profissionais sérios que o recebeu encontrou qualquer vestígio de adulteração. Há, inclusive, ferramentas que usamos para detectar montagens — e não havia qualquer indício disso. A própria assessoria da Prefeitura de Vitória se manifestou apenas para negar o uso de verba pública na viagem. E aqui está o ponto-chave: em nenhum momento negaram a presença dos dois no show. Por quê? Porque seria crime mentir oficialmente. E ninguém é ingênuo a esse ponto.

A assessoria institucional fez o que lhe cabia. Falou pelo prefeito e pela vice em sua função pública. Já sobre a esfera privada, o silêncio impera. E o silêncio, quando a verdade é urgente, grita mais alto que mil notas oficiais.
Diante da falta de explicações, um pequeno grupo de militantes passou a atacar o mensageiro. Léo Dias, o colunista que trouxe o vídeo a público, virou “fofoqueiro”, “inimigo da direita”, “inventor de intrigas”. Ora, sejamos honestos: o mesmo Léo Dias foi celebrado por esses mesmos perfis há poucas semanas, quando entrevistou o ex-presidente Jair Bolsonaro em uma conversa franca, sem filtros. Até trechos daquela entrevista viralizaram entre os que hoje o desqualificam.

Afinal, o problema é o jornalista ou a pauta? O problema é o Léo ou a verdade desconfortável que ele trouxe à tona?
Não gosto do tipo de jornalismo que ele faz. Não é minha linha. Mas isso não me autoriza a dizer que ele mente. E se o vídeo é falso, que o prefeito e a vice processem. Se não o fazem, é porque sabem onde essa estrada termina. Talvez em comprovação de ingressos, reservas de hotel, imagens de câmeras, registros de voos. E aí o que era um “vídeo” pode se transformar em algo muito maior.

Vou entrar nesse mérito por um único motivo: o próprio grupo que tenta defender o indefensável nos empurrou para esse terreno. Estão usando esse ponto como parte da estratégia de defesa — e isso nos obriga a comentar o que, em condições normais, não deveríamos precisar abordar. Não estou aqui para condenar ninguém, apenas para desfazer as artimanhas maliciosas de quem, iludidamente, acredita estar ajudando.

Falo de meia dúzia de entusiastas que ora tentam vender a ideia de que tudo não passa de fake news, ora dizem que “não tem nada demais” nas imagens. Afinal, é deepfake ou é só um comportamento fraternal entre amigos? Escolham uma narrativa, porque a contradição de vocês já virou tropeço público.

Se for mesmo “algo natural entre colegas”, proponho um teste simples de coerência: permita que sua esposa ou marido viaje para um show distante, reencontre um colega de trabalho e se comporte em público com o mesmo grau de intimidade que um casal costuma demonstrar. Se isso, para você, é aceitável, então talvez habitemos universos morais distintos. Esse tipo de permissividade — ou fantasia consentida, se for o caso — definitivamente não faz parte dos valores que compartilho.

Mas sejamos justos: quem deve falar — se quiser — são os dois envolvidos. São adultos, experientes, e sabem o que fazem. O que não pode continuar é esse circo de assessores informais, militantes exaltados e simpatizantes desavisados querendo reescrever a realidade com tinta invisível. Estão criando um constrangimento desnecessário às famílias envolvidas, atiçando ainda mais a imprensa nacional e incentivando uma curiosidade que antes poderia ter se dissolvido no tempo.

O que era um episódio pontual virou um problema de proporções nacionais porque meia dúzia de bem-intencionados resolveu brincar de marqueteiro amador. Inventaram enredos, criaram narrativas mirabolantes, e acabaram provocando o efeito contrário: colocaram holofotes onde antes havia apenas sombra.

O silêncio de Pazolini e Cris não parece estratégico. Parece constrangido. E é justamente essa ausência de uma resposta clara — combinada com a verborragia dos entusiastas — que fez o caso escalar. Agora, com a imprensa cavando mais fundo, até onde os aliados estarão dispostos a ir? Vão sustentar a tese do deepfake diante de provas materiais? Vão seguir desqualificando toda a imprensa nacional? Porque, lembremos: não foi só Léo Dias. O vídeo saiu na Veja, no Metrópoles, no Terra e em mais de 100 portais — os mesmos que, em tempos de pesquisa eleitoral favorável, eram tratados como fontes confiáveis.

No jornalismo, temos um princípio básico: contra imagem, não se briga. Você pode debater discurso, interpretar contexto, mas não pode apagar o que o vídeo mostra. A mentira, quando usada como escudo, vira uma lança apontada contra quem ela pretendia proteger.
E quando a verdade vier — porque ela sempre vem — os primeiros a serem sacrificados serão justamente os que gritaram mais alto. A política não tem pena de quem cria problema demais. Os líderes silenciam, os assessores somem, e os “fiéis defensores” ficam sozinhos, ridicularizados por terem acreditado que a lealdade justifica tudo — até a mentira.

A verdade não precisa de malabarismo. Precisa de maturidade. E a política, mais do que nunca, exige compostura. O caso Pazolini-Samorini ainda é um episódio mal resolvido — mas o pior não é o que ele mostra. É o que seus defensores estão tentando esconder. E nisso, estão fazendo um estrago maior que qualquer vídeo.

Aos exaltados que continuam tentando tapar o sol com informações falsas, um conselho antigo: quem fala demais dá bom dia a cavalo. E quem brinca com a inteligência do povo, cedo ou tarde, será chamado a responder.
Para finalizar: homem ou mulher adulto responde por si. E se escolhem o silêncio, é porque sabem que o buraco é mais embaixo.

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